Teledramaturgia à la U.S.A
Os enredos das novelas brasileiras se tornam cada vez mais
especializados em baixas audiências e parece que não podemos atribuir esse
feito homérico apenas as redes sociais. Enfim, o fato é que os nossos folhetins
perderam a indispensabilidade no programa noturno de entretenimento do povo
brasileiro enquanto as séries americanas parecem ter se enraizado no ócio pouco
criativo destes nossos descendentes da brava nação tupiniquim.
A atual novela das nove é um belo exemplo dos sucessivos
fracassos da Tevê do plim plim em alcançar as elevadas audiências que tivera no
passado. Repetindo a velha fórmula de todas as novelas das nove, o enredo
ampara-se quase sempre num vil e atabalhoado garatujo de ópera italiana, onde
personagens buscam dinheiro, poder e alpinismo social a todo preço.
Acrescentaram a esse enredo babilônico a prostituição nas famílias de classe
média que foi eloquentemente rejeitada pelo incorrigível puritanismo hipócrita
da sociedade brasileira.... Ah já não se fazem novelas como antigamente! Esta
nossa teledramaturgia parece flertar com as séries americanas, não se parecem
mais conosco!
O atual folhetim das nove horas cumpre outro nobre dever da
tevê brasileira: manter os negros no seu devido lugar de favelados ou esforçados
arrivistas sociais, valorizando sempre a já cristalizada condição de
coadjuvantes que ocupam na história do Brasil .... Não, não é mera coincidência
que as virtuosas aventuras românticas de personagens brancos sejam acompanhadas
por uma empregada gorducha, negra e atrapalhada ou por um jardineiro cujos
cumprimentos servis o fazem parecer um servo diante de um nobre cavaleiro.
Mas há uma outra coisa que me aflige na programação do Plim
Plim: as chamadas minisséries que contavam parte de nossa história
desapareceram para dar lugar a destemidos policiais no padrão CIA, a assassinos
em série e toda sorte de estereótipos de séries americanas. Ainda me recordo de
como recorria a todos os meios para chegar à casa a tempo de ver a minissérie
“Queridos amigos” e meter-me em todas aquelas divagações sobre os tempos da
ditadura militar e da guerra fria. Hoje devo confessar que já não tenho mais os
mesmos impulsos para saber se João matou José, ou melhor, se John matou Joseph
nesses obscuros thrillers globais.
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