O tribunal de aves de rapina contra a matriarca de dentes cavalares


A exemplar democracia tupiniquim é mesmo um estado de qualidades singulares, especialmente quando se trata da árdua tarefa de informar ao povo aquilo que se passa nos palácios onde ficam os seus extravagantes caciques e toda a ladroagem que macula os bons costumes daqueles homens encarregados de conduzir a nação dos paletós intocáveis.

Na república tropical, a informação parece ser a mesma nos poucos jornais e revistas que aqui circulam e coincidentemente todos os editores, com raras exceções, parecem compartilhar a mesma ideia sobre o atual governo da matriarca de dentes cavalares. Essa concordância tácita entre os editores dos chamados “jornalões”não é mera coincidência, pois o jornalismo praticado nesta árida terra nunca empregou tanta energia contra um cacique-mor desde a derrubada do “usurpador de poupança”.  A mulher que atualmente dirige o esquálido povo descendentes dos guerreiros Tupi, exerceu com notável destemor o oficio de soldado da resistência contra “ os homens de uniformes verde-oliva” e alcançou a desejada cadeira de chefe dos Paletós intocáveis, depois que “ o grande herói do povo” não podia eleger-se pela terceira vez seguida, a fim de respeitar a sagrada lei do país. Foi então que o Partido do “grande herói do povo” teve que refletir sobre a sucessão do trono presidencial e eis que se decidiu pela Matriarca de dentes cavalares, uma figura de convicções fortes e sólida formação intelectual. Depois de vencer o partido da moeda salvadora pela terceira vez seguida, manobrando com grande destreza o escândalo da “mesada” aos fazedores de leis, o partido do povo brandou os louros da vitória e deu continuidade ao altruístico projeto de hipertrofia da classe média. No entanto, o fantasma do “dragão” voltou a estarrecer a brava sociedade tupiniquim e logo o tribunal de corvos deu a sentença de que a economia estava em agruras e que o partido do anão barbudo falhara na missão econômica, trazendo de alguma forma as fumaças do passado glorioso do partido que venceu o “dragão” com a moeda salvadora...

Durante meses os jornalistas desse estabanado projeto de estado democrático dedicaram-se a falar sobre as consequências do retorno do “dragão” e todos os Jornalões gritaram em coro a incompetência do “partido do grande herói” na administração das riquezas e dádivas tão benevolentemente concedidas pela natureza a terra dos paletós intocáveis. Aproximava-se a eleição para cacique-mor e, como num passe de mágica, os corvos encontraram uma carniça para se fartar: a operação lava jato! Jamais se tinha visto a imprensa tão empenhada numa investigação policial e vomitava-se o catecismo diário da Lava Jato na parcimoniosa capacidade cerebral do povo tupi, que não afeito a leitura de livros e a reflexão política, é incorrigivelmente vulnerável a ladainha do tribunal de aves de rapina. Veio então o grande momento, e o partido da moeda salvadora, que tramara a retomada do posto de cacique-mor, num conluio funesto com os corvos falhara pela quarta vez e perdera novamente o cetro republicano para o partido do povo. O irreprochável veredito dos corvos midiáticos contra a matriarca de dentes cavalares e seu partido não surtira o efeito desejado e o vil enredo criado com o intuito de esfacelar a candidata do “ herói do povo” por pouco não obtivera êxito.

As aves de rapina, mesmo após a derrota, não se cansaram e continuaram a despejar a obsoleta lição da economia ortodoxa no seu canhestro catecismo conservador. Se o pouco de razão que lhes há não viesse em socorro incluiriam certamente a anulação da Lei Áurea e colocariam todos os negros na senzala novamente.

A operação dos arautos da lei parece não ter fim e não há dia em que não se jogue no canto o precioso escândalo da empresa vendedora de óleo. Afinal de contas, os agentes da lei cumprem o seu dever em esquadrinhar a ladroagem dos mandachuvas dos paletós intocáveis, enquanto os editores poucos jornais que aqui circulam cuidam de julgar aqueles a quem consideram inimigos.

A matriarca de dentes cavalares conhece as leis que outras nações impõem para evitar que os jornais se assemelhem a feudos, onde poucos senhores são proprietários de quase tudo, mas hesita mais uma vez em colidir com estes nossos barões midiáticos. O personagem de Camus ressentiu-se pela inércia ao ver um desconhecido atirar-se da ponte, a cacique-mor da ilustre nação tupiniquim parece frear todos os instintos de reação humana ao assistir passivamente ao cerco dos corvos ...

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