O parlamento na república dos paletós intocáveis
A república dos paletós intocáveis é mesmo uma singular
democracia dentro das tortuosas linhas tropicais. Lá o presidente é o chefe
supremo da nação, mas seu fulgurante poder tem sido tolhido pelo que se convencionou
chamar de presidencialismo de coalizão.
Na irreprochável democracia dos paletós intocáveis o presidente deve se
curvar ao “partido rei”, que elege muitos paletós no parlamento, que exercem
grande influência sobre as decisões presidenciais, tornando a figura
presidencial um mero fantoche nesse putrefato sistema presidencialista. Apesar
de ser nativo da respeitável república dos paletós intocáveis, me encontro num autoexílio,
pois sempre cultivei imenso nojo das instituições da pátria que me concebeu.
Mas através da máquina retangular e seus corvos sempre prontos a conseguir uma
tragédia, tomei conhecimento que a atual presidente pode ser retirada pelo que
lá se convencionou chamar impeachment, mesmo que haja uma palavra equivalente
no idioma oficial dos paletós intocáveis ...
Contaram-me que agora é o “partido da aristocracia” ou
“partido rei” que orienta os desalinhados caminhos dessa atrapalhada república
e que os dignos membros desse partido se consideram a bandeira moral da pálida
nação tupinambá, pois o partido do encaixador de peças causou grande desapontamento
ao povo depois que as autoridades policiais e a infalível justiça descortinaram
uma abismal estrutura de corrupção dentro da empresa cavadora de poços de óleo
negro.
A operação policial que desvendou os escusos propósitos da
multinacional dos trópicos foi curiosamente iniciada no ano passado, um pouco
antes das eleições para o cargo de cacique geral desse garatujo de república.
Coincidentemente os corvos do tribunal midiático adiantaram-se
no julgamento e criaram um rico enredo contra o partido do encaixador de peças.
Mas mesmo diante do Golias midiático, Davi com sua antológica pedra triunfou.
Desde a eleição da candidata do grupo dos “comunistas”, a
máquina retangular não deu descanso a presidente, jorrando diariamente nas
amorfas cabeças do povo informações manipuladas, que parecem declinar para o
partido do inventor da moeda salvadora.
O partido da moeda salvadora é sem dúvida o predileto do
tribunal midiático, que não mediu esforços para eleger o seu candidato, porém
não obteve êxito nesse desastroso empreendimento.
Mas devo confessar que nunca consegui entender as razões que
motivam os estranhos votos do povo dos paletós intocáveis. Talvez possuam uma
inaudita vocação para o sofrimento e a miséria que os leve sempre a eleger os
mesmos senhores feudais, que os fazem trabalhar como mouros e ainda lhe
arrancam pesados tributos.
Alijados da qualquer participação nas decisões políticas, o
povo assiste inerte e paralisado o espetáculo dantesco de leis feitas pelos
paletós do parlamento, cujo escopo nunca inclui a realização do bem público, ao
invés disso, gozam de privilégios comparáveis aos de um monarca absolutista e
agem sempre no sentido da satisfação das próprias vontades, pouco lhes
interessando aquilo que seria benéfico para o povo.
Assim caminha a largas passadas o processo de
redemocratização da nação tupiniquim, faltando-lhe os brasões, castelos e
armaduras medievais...
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