A morte do indigente

Raspava o alumínio daquele rabisco de prato
Raspava-o com a voracidade dos famélicos
Sentira uma dor no peito
Já sentira essa dor outras vezes
Passara um transeunte e olhara para baixo
Era a mosca que lhe incomodava
Tangeu-a
A dor insistia no peito do indigente
O indigente já era parte daquele cenário da rua Barão de...
Era um pedinte que fixara residência ali
Como um verme que se agarra as carnes putrefatas de um cadáver
Ele sobrevivia das migalhas
Tinha que realizar o milagre dos pães todos os dias
Finalmente cansara
Seu peito arquejara o último suspiro
Duas pás de areia e comentários sobre o futebol dominical puseram fim ao enterro
Nenhuma flor ou música orquestrada
Formigas acorrem para um buraco
Com um graveto apanhado no chão o coveiro rabisca  um nome
Uma mão encaixa  a irreprochável cruz das lápides enquanto observa os carros que passam
Um transeunte que passava em frente do cemitério tange a mosca que lhe bate na face...

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