O convicto feudalismo da república dos paletós intocáveis
Encontro-me afastado da República dos Paletós Intocáveis há
algum tempo, pois decidi por um autoexílio para tentar esquecer todo o mal que
essa aparvalhada nação provocou-me. Refiro-me a tudo que toca o cidadão comum,
que necessita ter acesso gratuito a todas as políticas públicas, visto que os
Paletós intocáveis impelem seus cidadãos a uma carga de impostos tão pesada e
onerosa quanto a pedra de Sísifo.
Mas não é sobre os impostos desse desastroso projeto de
democracia que quero vos falar, digníssimo leitor, nesse simplório panfleto
desejo vos provar que os habitantes dos paletós intocáveis vivem sob o jugo de
alguns senhores feudais, que constituem uma fração minoritária da sociedade
desse país e que seus vassalos e servos contribuem solicitamente para a que o
regime feudal se mantenha de pé em pleno século XXI.
Embora o Titã tropical orgulhe-se do poder e influência que
exerce sobre os anões da América e grite aos quatro ventos que se tornou
democracia desde a última Carta Magna de 1988 e traga neste documento todos os
alicerces jurídicos comuns as chamadas democracias liberais, restaram ainda
muitos senhores feudais que se consideram os donos da macilenta nação
tupiniquim. Através da máquina retangular e da velha impressa de papel tomei
conhecimento de que o atual Parlamento (ou como lá se chama Congresso Nacional)
está repleto de figuras tão conservadoras que algumas vezes os nativos dos
paletós intocáveis sentem-se deslocados aos tempos coloniais com seus
indolentes senhores de engenhos e um exército de escravos condenado aos
trabalhos braçais.
Sabemos que a escravidão e a fase de colonização ilustram
páginas vexatórias da história da honrosa república tropical , maculando a
pureza do seu projeto democrático , suas instituições avançadas e todas as virtudes
desse presidencialismo de coalizão , que
esfacelou as ideologias dos partidos políticos , transformando o parlamento num
balcão de comércio pútrido , num mesquinho jogo de governo e oposição, cujo o
único perdedor é o cidadão comum , aquele que não desfruta dos privilégios feudais
daqueles que ocupam as cadeiras do Parlamento ou das benesses de outro cargo
político.
Mas um dos fatos que mais me causaram impressão foi saber
que os habitantes dos paletós intocáveis continuam a eleger sempre os mesmos senhores
feudais, homens que talvez por carregarem consigo uma espécie de insígnia
divina foram escolhidos por Deus para conduzir o povo. Não é dado ao povo
nenhum tipo de participação política e sequer são consultados sobre as leis
pelos legisladores. O único momento em que a arraia miúda pode opinar é na
eleição e depois de terminado o processo de escolha de seus representantes
políticos a nação apenas assiste passivamente a continuidade de um feudalismo
tão firme e cristalizado, que acabou se tornando parte da estranha democracia
que se constituiu nos paletós intocáveis desde que os homens de verde-oliva
devolveram o poder a aristocracia civil.
Não se sabe quais são os estranhos propósitos de uma
democracia que carrega desavergonhadamente a bandeira medieval, mas uma coisa é
certa: Falta nessa mestiça nobreza um sangue qualquer de um Bourbon ou a
opulência culta da corte Vitoriana.
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