A deserção do soldado
Congelava-se- lhe o macilento corpo enfeitado em farrapos,
O fuzil rejeitava a
inevitável vocação para o tiro fatal, abandonado próximo a um carvalho frondoso
O uniforme maltrapilho foi retirado do corpo num arrebato de
lucidez
Quando desabotoava desenfreadamente o casaco, o capacete já
se encontrava no chão,
Completamente despido da honrosa farda de guerra, aquela
figura esquálida lançara um olhar trovejante àquilo que dera sentido à sua vida,
a baioneta que extinguira tantas primaveras, o fuzil, que lhe assegurava a
eliminação do homem que usava um uniforme diferente do seu...
Deu três passos à direita para enxergar o campo onde
combatera por tantos dias ...
- Não se mexa – gritou um soldado brandindo uma pistola
veementemente apontada para a cabeça do homem nu.
Ao observar que o homem nu era um inimigo que parecia ser um
desertor, o soldado esbravejou: - veste o teu uniforme e volte ao campo de
batalha, pois temos que cumprir o nobre propósito de promover o acerto de
contas entre duas nações através da irreprochável arte da guerra, única forma
que nós, animais superiores da natureza, guiados pela entidade divina
encontramos para resolver todos nossos problemas! Tu bem o sabes!
O homem nu voltou-se para o soldado pois se
encontrava de costas e olhou-o fixamente ...
O soldado ainda tentou arrancar-lhe duas ou uma palavra que
fosse, mas nada se lhe saia da boca, limitou-se a observar a disposição e o
vigor daquele homem para a guerra sem retrucar...
Voltou à mesma posição onde se encontrava antes da chegada
do soldado e continuou o caminho que começara a trilhar...
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