Um alienígena

A república dos bois certamente nunca foi um local fértil para várias coisas entre as quais figuram a honestidade e a lisura de caráter . Os habitantes desta maltrapilha democracia já se habituaram as falcatruas , roubos , saques e todas as categorias catalogadas de manobras ilícitas que aqui são afetuosamente chamadas de "jeitinho" ou "malandragem". E se alguém ousa enfrentar tal sistema de coisas , essa frenética máquina de corrupção provavelmente não terá êxito , pois que a distinta arte da maracutaia tornou-se o espírito da nossa desastrosa democracia dos trópicos , uma medalha de honra , um vergonhoso troféu que seguramos com um malicioso brio . Se  qualquer dos cidadãos da república dos paletós intocáveis não for um perito na malandragem , jamais conquistará coisa alguma , pois é através de escusos métodos que um zé-ninguém de repente torna-se um milionário , dorme sem um centavo nos bolsos e no outro dia acorda com uma robusta conta bancária ! Como patriota deste desenho tosco de república , sinto-me honrado de me atrapalhar nos sábios estratagemas do "jeitinho tupiniquim" , tenho sérias dificuldades em exercer com desenvoltura os nossos ilícitos de cada dia e mesmo diante do inevitável processo de aprendizagem social, fracassei ! Não consigo tirar vantagem de coisa alguma ou de algum idiota e não tenho nenhuma medalha de honra no meu quarto... Sinto-me como um ser de outro planeta , um alienígena , um pobre diabo condenado ao ostracismo da seriedade . Confesso que algumas vezes revoltei-me contra mim mesmo e empreendi um épico esforço para tornar-me o cidadão malandro da república dos bois , mas a pedagogia da trapaça não encontrou ambiente fértil em meu franzino espírito . Certa vez planejei fazer pequenos roubos de alimento numa padaria , mas quando  entrei lá , as mãos trêmulas não foram capazes de executar o torpe ato da rapinagem . E com o passar do tempo , pude ver fortunas construídas com brilhantes trapaças , jogadas geniais da insuperável arte da malandragem ... Depois de um exílio voluntário , finalmente consegui fugir da república dos bois e neste nova terra que escolhi viver , a maracutaia e os atos abjetos não são credenciais para se tornar um cidadão e nesta nação as pessoas conseguem viver sem trapacear ou aplicar fraudes . Não é um lugar idílico , pois que não há paraíso e cada povo tem seus próprios problemas , mas foi bom descobrir que em outras terras pode-se ter uma vida confortável com dignidade ... Dignidade! Palavra inexistente em qualquer dicionário  da minha pátria...














































































































































































































A república dos bois é certamente um local infértil para várias coisas entre as quais figuram a honestidade ,a lisura de caráter e a solidariedade . Numa nação habituada aos inglórios atos de falcatrua , roubo e todas as espécies catalogadas de manobras ilícitas aqui chamadas afetuosamente de "jeitinho" ou "malandragem" , as raras sementes       






















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