Carta ao povo

  A República dos paletós intocáveis nunca teve nada de grandioso , imaculado ou  honesto . O  supremo cacique , a aristocracia desbotada e um povo religiosamente brejeiro e afeito  a arte da malandragem formam uma pintura funesta da nossa infertilidade democrática e da nossa grande vocação: o feudo medieval !
Sendo um homem de pouca ou nenhuma instrução , aventurei-me a escrever duas cartas : uma ao nosso rei e outra ao parlamento , no entanto não obtive resposta nem do cacique-mor  e tampouco da aristocracia letrada de nosso país que se ocupam da nobre tarefa de redigir as leis e de um grande trabalho de Sísifo que é nos conduzir ao inalcançável estado democrático de direito... Entendo que indivíduos com tarefas tão elevadas ainda não tiveram tempo para ler a carta de um despretensioso homem das jangadas e das redes e ainda por cima a "grande república tropical" foi assolada pela peste vinda do país do ditador escravocrata , portanto , considero perfeitamente compreensível a ausência de resposta .Porém decidi escrever uma terceira carta , esta endereçada ao povo desta ilibada nação tropical! Eu , João dos Santos , um esmolambado súdito deste feudo moderno exijo que os servos livrem-se dos grilhões da tão aclamada "malandragem", acusação que pesa sobre a arraia miúda desta andrajosa república , pois os maltrapilhos dos " paletós intocáveis " sempre cultivaram um irrefutável gosto pelos " pequenos crimes " , pelos "pequenos atos de ladroagem" e uma cínica impudência pela trapaça , pelo embuste , aqui vulgarmente conhecidos como "sacanagem" ou "malandragem". Mesmo fazendo parte da ignóbil classe dos "párias" não compreendo por que o povo apegou-se tanto as  pequenas trapaças diárias como " furar o sinal no trânsito", "furar a fila " e com esses e outros tantos furos estamos construindo uma nação repleta de  remendos .  Este notável pendor para ações ardilosas e fraudes que também é chamado pela plebe de "jeitinho" não nos torna mais dotados de benevolência que os nossos "paletós", pois só podemos exercer nossos desvios éticos em tamanho menor ... Se não podemos pegar o ouro , ficamos com a prata ... Se nos falta a gravata e o célebre título de "doutor" para roubarmos com elegância , então pegamos uma laranja aqui , uma galinha acolá e como diz o ditado popular: "de grão em grão a galinha enche o papo! 

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