A doença da "ideologia"

Há muito tempo que me encontro exilado da República dos paletós intocáveis , vivendo numa pátria estrangeira que respeita meus direitos de cidadão . Mas nunca esqueci a pátria que me concebeu e quando soube que o partido do " duende barbudo" perdera força no pútrido comércio que se chama "parlamento" , e que após a prisão do cacique do partido de bandeira cor de sangue , seguiu-se um democrático processo que lhe retirou também o cetro e a coroa republicanas . O partido dos "pobres" e "párias" havia ultrapassado o período de uma década ocupando o cargo de cacique-mor desta vexatória república e o tribunal midiático em conluio com várias tribos que estavam insatisfeitas com as astutas jogadas de rapinagem descaradamente somadas a um populismo caricatural , bastante peculiar dos líderes tupiniquins tomaram a decisão de se revoltar e por um fim a dinastia do grupo do " duende barbudo". E eis que o notável povo tupiniquim tinha um novo "Messias" , dignamente preparado para salvar o país das trapalhadas econômicas de sua antecessora e como o paciente personagem de Kafka esperava entender as leis que o condenaram  , o povo dos paletós intocáveis aguardava o " milagre dos pães" vindo daquele esquálido escriba , homem altamente letrado nas leis e tido na conta de grande erudito ... Assim como seus antecessores não alcançara a façanha de retirar os esfarrapados da lama e foi visto como mais um falso "Messias" , fazendo o povo sentir falta do mandachuva dos "operários" . Porém àquela altura a andrajosa democracia latina mirava outra figura messiânica , um homem formado na violência irracional das fardas verde-oliva apresentava-se as massas populares como um item raro de decência e probidade oriundo do "parlamento menor"e arrebanhava seguidores em todas as províncias dos paletós intocáveis e falava de forma inflamada contra os " apóstolos da bandeira vermelha" e seu grande cacique que se achava encarcerado pelas maracutaias que os homens de toga descobriram com grande empenho de energia e celeridade. No entanto , o que havia mudado na minha honrada pátria é que assim como na "guerra fria" o povo tupiniquim dividiu-se em duas tribos: a tribo dos " seguidores do duende barbudo" e os asseclas do "grande capitão" e   assim formou-se uma guerra ideológica acirrada sem precedentes na história da ilibada política tupiniquim . Não havia meio-termo , ou odiava-se  o cacique da bandeira vermelha e metia-se a marchar por uma nova ditadura dos uniformes verde-oliva ou defendia-se uma tal  democracia com avanços sociais inquestionáveis concedidos pela franciscana bondade do duende barbudo e alcunhava-se os correligionários do grande capitão de fascistas e nazistas com suástica e fuzis , prontos para executar o genocídio dos "párias". Embora os progressistas da tribo da bandeira vermelha se apresentassem como arautos da paz e do avanço democrático , passaram a chamar de fascistas todos que não concordavam com suas sábias opiniões. Qualquer um que apontasse os desvios de conduta democrática da foice e do martelo de Stalin poderia ser apedrejado até a morte pela patrulha ideológica pequeno-burguesa . Enquanto faziam coro contra a violência do grupo de seguidores do cacique de fuzil, os históricos defensores da democracia vigiavam democraticamente a liberdade dos pensamentos alheios ... Pavonear-se de erradicar a miséria social e arrancar o infindável câncer da pobreza também é parte de sua catequese ideológica , que diga-se de passagem tem muitos fiéis , nunca esquecem de lembrar que lutaram contra a ditadura dos "homens de fuzil" e que merecem receber altas quantias de dinheiro da nação pelas torturas que afirmam ter sofrido . Estes homens são , sem sombra de dúvida os heróis desta desastrada república de grãos e bois e que ninguém ouse contestar tal ato de heroísmo , pois certamente será condenado pelo tribunal ideológico do progresso ... Tão avançados e intelectualizados esqueceram de ler uma frase famigerada do filósofo francês Voltaire :" Posso não concordar com uma palavra do que dizes , mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo"... Eis ai uma grande reflexão para esta nossa era de patologia ideológica !