A espada e o cavaleiro

Um homem cambaleante retirava violentamente sua armadura , despia-se de todos os apetrechos que formam a incorruptível armadura do cavaleiro e de repente encetou um diálogo com a espada que trazia nas mãos repleta do sangue de homens que traziam a bandeira de cor diferente da sua pátria...
- tu , vil metal destinado a hecatombe , a chacina e atos de barbárie não tens serventia alguma para mim , desisto desta guerra desarrazoada , não entendo por que pertencendo a uma mesma espécie privilegiada dentro de todo o reino animal , pois que nos foi dado o intelecto em grau avançado, nos matamos uns aos outros e lançou a espada no campo de batalha...
A espada adotando um tom quase furioso replicou:
- Porventura escolhi esse destino ou ele me foi dado pelos seres pensantes?! Acaso pode um simples objeto desenvolvido para a execução da morte contestar ao "homo sapiens" o propósito para o qual foi criado? Pode o fuzil dizer aos homens não quero derramar sangue ? Tu bem sabes que isto não nos cabe , ilustre descendente da argila!
Vós sois soberbos e vaidosos de seus feitos bélicos , de suas guerras sem razão e tu me chamas de vil , caro soldado !

O cavaleiro escutou atentamente cada argumento de sua espada , coberta de sangue  em razão do seu ofício e digna por desempenhar a elevada tarefa para a qual foi escolhida pelo "homo sapiens" e com um tom tranquilo retrucou:
- Não tive a intenção de pôr em questão o seu "trabalho" , a única coisa que tenho certeza é que  tu e esta armadura para nada me servem a partir de agora . Renuncio a aviltante arte do assassinato que tem sido tão imaculadamente executados por nossos cavaleiros , homens nobres de espírito , cujas almas espartanas derramam sangue em nome de tantas coisas ... Impérios , ouro , prata . Como cavaleiro nunca fiz nada que os Evangelhos Bíblicos nos ensinam , ao contrário, o ódio arrebatava-me nas guerras , usava-te com orgulho , satisfazia-me o sangue derramado . Mas esta foi minha última batalha , deixo-te aqui para nunca mais voltar ao ofício do soldado , desejo a ti ilustre descendente do ferro , que sejas banida da humanidade , pois certamente tu não foste concebida por nenhum homem verdadeiramente sábio , já que foste inventada com o fim da polida selvageria , da educada barbárie do homem civilizado...
Então , completamente nu e ainda trôpego e cansado , o velho soldado deu às costas ao campo de batalha ...

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