Uma aristocracia a meio caminho

Sabemos que há divisão de classes é , sem sombra de dúvida, um dos aspectos presentes em todas as sociedades ditas civilizadas e que se apresentam com diversos adjetivos como modernas, liberais, democráticas entre tantos outros que nos passam a ideia de agrupamentos humanos que partilham de instituições  político-sociais das mais avançadas... Duas bombas em 1945 , a menina correndo naquela foto , o sensato homem que se pusera a frente daquele tanque de guerra em outra bela fotografia. Somos certamente civilizados! E em toda civilização deve haver as tais classes sociais e desnivelamento entre os indivíduos , de modo que se a um determinado cidadão lhe é permitido residir num condomínio luxuoso com todos os aparatos de segurança imagináveis , a outro a nossa aclamada civilidade lhe concede um casebre em ruinas e assim marchamos a passos largos rumo ao pico de nossos delírios civilizatórios...
Na república dos paletós intocáveis a sociedade não haveria de se esquivar da vocação civilizatória que divide a humanidade usando um único critério: a supracitada propriedade privada! Mas há aqui nesta nossa aldeia tupiniquim um grupo de indivíduos que se tem na conta de aristocracia , não por que possuem riquezas em abundância , mas pelo simples fato de serem chamados de doutores pelo povo... São homens que desempenham as funções mais elevadas da nossa nação ,e possuem vestes de trabalho especiais que os distinguem do povaréu indistinto, desprovido de grandes recursos de intelecto. Uma outra característica que os torna diferente das massas populares é a substância especial da qual são feitos , pois observando o seu caminhar , que é quase uma levitação e sua pose altiva , que os assemelha aos antigos reis da Europa, acredita-se que além de carne e osso há algo a mais em suas estruturas corporais! Mas quando se lhes abre o baú não se encontra ouro , prata nem grandes coisas. Metem-se a trabalhar feito loucos , acreditando firmemente que em poucos dias acumularão fortunas dignas de um Bill Gates e confiando em sua fé capitalista compram carros , apartamentos , iates , tudo para se distanciarem da massa ignara , pois há muito que os populares desta nossa aldeia conseguem comprar carros e outras coisas que até poucos anos era privilégio da aristocracia dos paletós intocáveis , por essa razão os nossos bacharéis de preto e branco acharam que deveriam distinguir-se do populacho e passaram a comprar carros cada vez mais caros , para que o sangue azul que corre em suas veias não se corrompesse. Pois veja que constrangimento não se daria a um desses nossos aristocratas ter o mesmo carro do trabalhador comum ou saber que seu filho estuda na mesma sala de aula do filho do porteiro do seu prédio... Ah que vergonha! Não, isso não pode acontecer , lugar de pobre é na senzala , condenado a sentença dos trabalhos braçais e mal remunerados! E sentem-se mesmo perturbados pois de uns tempos para cá batem-se com o povo nos aviões , teatros e templos do saber... E muitos destes nossos doutores emergiram do chão , comeram muito pirão antes do sonhado caviar e ainda assim incorporam a vontade de riqueza insaciável e os hábitos perdulários de seus colegas descendentes de Barões , duques e viscondes... Eis ai descrita nossa aristocracia a meio caminho , pois acreditando que o errático título de doutor com que os populares lhes lisonjeiam lhes tornam banqueiros ou empresários,  metem-se em financiamentos intermináveis e tornam-se súditos dos verdadeiros aristocratas deste rabisco democrático ensolarado : os banqueiros! Mas se lhes falta dinheiro suficiente para seus criativos projetos de riqueza , resta-lhes a pose e a vontade...

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