Sangue e lágrimas

O ofício do jornalista é considerado um dos mais nobres em qualquer nação na qual as instituições democráticas já se encontrem num estágio avançado e como a república dos paletós intocáveis é sem sombra de dúvida o exemplar mais bem talhado de estado democrático entre as amaldiçoadas linhas dos trópicos os jornalistas desfrutam de plena liberdade de expressão para prestar um grandioso serviço de informação ao povo. No entanto , parece que esta liberdade de imprensa tão almejada em vários países de regime ditatorial confere poderes extraordinários aos jornalistas tupiniquins , pois se metem a emitir opiniões pessoais sobre os fatos que deveriam somente descrever ou noticiar com imparcialidade . Se fosse este o único problema da imprensa cabocla inevitavelmente chefiada pelo patriciado da esfarrapada republiqueta haveria uma solução simples : mandar as " aves de rapina" de volta às universidades , a fim de que retomassem as lições mais elementares do oficio jornalístico e estaria tudo resolvido! Mas o que há de pior nesta desastrosa imprensa tropical é sua obsessão por tragédias épicas , destas que lhe possibilita criar um enredo com colossais quantidades de sangue e lágrimas ! Um avião cai , e lá estão os "corvos" com suas câmeras , para sugar até a última gota de sangue das vítimas e montar uma rentável estória explorando vampirescamente o sofrimento alheio . Num  caso como este nunca se contentam em exercem  a sensata tarefa de fornecer a informação sobre mortos e sobreviventes sem procurar culpados para condenar e enquadrar em suas sofisticadas câmeras as lágrimas dos familiares das vítimas. Perseguem entrevistas sentimentais a fim de atulhar moedas para os cofres dos barões da imprensa tupiniquim , nisso se assemelham mesmo as aves de rapina numa incessante busca por "carniça". Quando lhes falta uma tragédia de proporções épicas recorrem ao expediente de relatar os fatos violentos mais comuns como latrocínios , estupros e a guerra civil entre facções criminosas e estado e assim prosseguem uma catequese diária de terror e medo paranoico ao povo dos paletós intocáveis . Além dessa  irrefutável vocação para o trágico , os nossos condes e marqueses ordenam aos seus servos que a informação nunca possa estar na contramão de seus interesses econômicos , pois antes da liberdade de expressão , importa-lhes os "bolsos cheios", mas se consideram homens liberais e defensores da democracia e de todos os direitos civis inventados durante as revoluções burguesas europeias , jamais lamentarão o trabalho assalariado e os direitos do trabalhadores em seus verborrágicos discursos públicos , fazem isso somente quando se sentam nas poltronas das casas grandes delirando ao imaginar como deviam viver seus ilustres ancestrais chicoteando escravos e estuprando escravas . Bufam quando percebem a inevitabilidade de regressar aos tempos coloniais ... Um passado repleto de tragédia ,sangue e lágrimas , que também fizeram lucrar os senhores de engenho e os barões do café , no qual cada lágrima dos escravos trazidos à força nos tumbeiros entulhava o baú de ouro do branco civilizado e cristão. Esta nossa atabalhoada democracia tropical parece mesmo ter um gosto irreprochável pelo derramamento de sangue e lágrimas e os jornalistas tupiniquins exultam mesmo quando ocorre uma chacina aqui e um terremoto acolá , pois tais fatos lhes garantirão pelo menos um mês de pouco trabalho , pois de uma chacina repetirão exaustivamente fotografias e imagens , clamando pelo choro coletivo , expondo impudicamente a dor da mãe que perdeu um filho , arrancando-lhe uma torrente de lágrimas e logo depois sentenciará os culpados . Parece não haver nenhuma Universidade capaz de explicar com clareza o conceito de ética aos "corvos" da república dos paletós intocáveis e dessa forma, a  sanguinária cartilha da violência objeta a lucidez e fomenta um estado de neurose crescente na amedrontada nação tropical. Percebe-se assim que os jornalismo da república dos paletós intocáveis presta um grande serviço ao país ao esguichar diariamente sangue na face do povo...

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