Os sábios tupiniquins

A república dos paletós intocáveis tem alcançado estatísticas irrefutáveis no que tange à educação formal de seu povo. Quando me refiro a educação formal , o leitor já deve saber que falo das instituições nas quais todo cidadão ocidental deve aprender todos os "truques" da arte de ser civilizado . Mas há também os valores que são transmitidos dentro do núcleo familiar , que aqui na grande aldeia tupiniquim , são os ensinamentos do Cristo , já que quase em todo o Ocidente é a religião predominante e , portanto , seus porta-vozes e líderes , que se encontram dispersos em diferentes igrejas , pois alguns interpretam que uma das vírgulas do sermão da montanha trata-se de um ponto final , enquanto outros afirmam ser um travessão e por causa de razões como esta, metem-se em confusões que parecem nunca ter fim. Mas deter-me-ei a vos falar sobre os nossos filósofos caboclos ,  homens que dedicam a sua vida à uma erudição oca , sempre prontos a disparar seus enfadonhos discursos verborrágicos , repletos de palavras em inglês que se propagam entre os demais sábios das universidades e se tornam moda mas não explicam ou esclarecem coisa alguma. Quando se tem o privilégio de escutar um "sermão" destes notáveis letrados do templo do saber , até um refrão de música popular ganha contornos filosóficos e criam-se inúmeras  teorias que quase nunca explicam patavinas . O intuito desta classe distinta classe de homens é elevar o pensamento Ocidental , pois quando se discute um objeto de estudo , cada filosofo isola-se nas suas convicções e cria sua própria teoria , fazendo dos templos de saber um local de competição , onde jamais se mensura a autêntica sabedoria de qualquer individuo , mas sim a quantidade de livros e artigos publicados , além é claro do almejado título de " doutor" , que torna qualquer simples tupiniquim um cidadão de um estágio intelectual mais avançado , justificando-lhe o nome de sábio. E preciso grande mesmo um grande esforço para subir os degraus que conduzem um profano qualquer ao panteão dos sábios , pois que, sem a inócua erudição de seus infindáveis artigos jamais se pode alcançar posição tão elevada. Já fui discípulo de um "templo de erudição" algum tempo atrás e me recordo de um professor que especulara pelo menos umas cem hipóteses dentro de um livro para , como dizem orgulhosamente estes nossos intelectuais ,aprofundar duas linhas de um texto de Shakespeare , o livro do estimado professor divagava sobre as intenções semânticas do inglês arcaico da época do maior dramaturgo ocidental , mas suas reflexões chegavam a  intransigência de obrigar o leitor de sua obra a estudar um desagradável calhamaço, esvaziado de objetividade e clareza . O livro que se esforçava para explicar de forma "acadêmica" duas linhas de uma das peças de Shakespeare , perdia-se numa filosofia frívola e tornava a ideia simples do texto teatral num labirinto que impedia qualquer tentativa lúcida de compreensão ! A missão dos nossos sábios parece ser tornar o conhecimento inatingível  ao povo , numa ininterrupta tarefa de empurrar as massas populares para fora do templo , pois consideram o conhecimento da ciência do ocidente , gerada pela filosofia dos antigos gregos algo demasiado elevado para que seja partilhado com o povaréu, e assim , afastam-se do povo , pois os nossos sábios do templo , esses doutores da erudição vazia , devem se manter como exclusivos proprietários do conhecimento. Na república dos paletós intocáveis a chamada "alta cultura" é um dos magníficos distintivos sociais que mais envaidece os maltrapilhos filósofos tropicais! Óperas , concertos e espetáculos teatrais foram feitos para os sábios e os mais abastados , pois para um simples operário lhe custaria quase o salário inteiro enfiar-se em qualquer desses eventos artísticos , pois que ainda há os " farrapos adequados "para se trajar nesses locais e as aulas de etiqueta para entender como portar-se de modo civilizado perante os homens superiores deste rascunho de estado democrático , nas aulas de etiqueta , aprenderiam , por exemplo, "dicas" de como e em que momento devem se emocionar e bater palmas em sinal de aprovação aos músicos e outras coisas de suprema relevância para o engrandecimento da nação. Não deve restar dúvida , portanto, sobre a importância destes nossos modernos escribas para o desenvolvimento desta erudição estéril, que, de nada serve a não ser para o aumento do consumo de papel , pois nesta terras inférteis para a prática da filosofia dos antigos gregos faltará sempre ideias autênticas e métodos claros de discussão das ciências e sobrará sempre papel ... Ai destes nossos sábios tupiniquins , pois comendo Platão , arrotam essa calhamaçada de ideias desconexas !

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