O bom ladrão

 Os nativos da república dos bois orgulham-se de sua grandeza econômica e incontestável relevância política dentro das catastróficas linhas tropicais . A república dos bois é certamente a grande nação da américa tropical e seu povo desenvolveu ao longo da história grandes virtudes e irrepreensíveis qualidades morais como um inveterado gosto pela arte da astúcia e uma farta inclinação para atos de egoísmo . Assim como o povo , a nobreza de paletó que governa esta venerável nação parece ter estudado os maiores tratados de ética da humanidade às avessas , pois empenham-se incansavelmente em atulhar seus cofres particulares com o dinheiro da nação . Embora o "patriciado" caboclo seja acusado pelo tribunal do povo de ser o grande e único causador de todos os males da república dos bois , esqueceram que num estado em que os " paletós" são escolhidos  pelo próprio povo , o cidadão se faz representar na escorregadia arte da política por outros cidadãos que partilham da mesma ideia da política: pouco ou quase nenhum trabalho e privilégios majestáticos! Há entre os habitantes da república da soja um exótico costume de jogar o "fardo da ética" para os seus caciques , esses escribas e doutores incumbidos da sublime missão de governar a grande nação da "américa maltrapilha". Desse modo , o substantivo ladrão fica restrito aos monarcas sem coroa  e toda a sua deselegante corte , enquanto o cidadão que aplica pequenas trapaças diariamente livra-se do odioso substantivo e ainda coroando a si próprio com as mais altas virtudes do ser humano , joga toda a maledicência e atos abjetos na conta dos "paletós" quase lhes atribuindo a origem do mal entre a espécie homo sapiens . E esses cidadãos das cotidianas arteirices cuja moralidade escorrega nos pequenos delitos também causam danos a nação . O "pequeno delito" é um tropeço ou deslize moral praticado apenas pelos "bons indivíduos" que não tem intenção alguma de prejudicar a evolução civilizatória  da república dos bois . E desses tropeços morais a nossa república está repleta , pois quando se vê um carro qualquer avançando o sinal vermelho , um sujeito dotado de grande astúcia furando a fila de repartição pública , o empregado que rouba uns trocados do comércio do patrão ,  lá está o " bom cidadão" e suas artimanhas ! Embora esses comportamentos nada heroicos sejam motivos de gracejos e até de grande orgulho pelo povo da república dos bois , que consideram seus atos de esperteza como uma "boa malandragem" inofensiva e cômica , sendo, portanto , diferentes em gravidade  da despudorada pilhagem dos recursos públicos dos caciques  . Com sua estranha concepção de moralidade a grande potência da "américa baixa " segue seu trajeto épico criando bois , bananas e " bons ladrões"...

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