escravo cordial , cidadão egoísta...

As linhas tropicais abrigam respeitáveis regimes republicanos , que conquistaram suas liberdades com épicos derramamentos de sangue , com uma honrosa exceção : A república dos bois! A grande economia tropical teve sua independência berrada às margens de um rio qualquer por um membro da realeza da nação dos azeites e vinhos e sua lei que aboliu a aviltante escravidão dos africanos foi escrita num papel ordinário pela filha do Imperador . Com uma jornada histórica repleta de fatos ilustres como o genocídio dos nativos e a escravização dos africanos , a pátria da soja tornou-se assim a nação mais fulgurante da "América descamisada". Quando  a grande peste dos povos de cabelos corrediços espalhou-se nas terras tupiniquins , seus chefes tribais copiaram as estratégias sanitárias dos países fazedores de neve a fim de frear as intransigentes necessidades biológicas do vírus , porém , o cacique-mor do espalhafatoso povo tupiniquim , homem formado na casta dos guerreiros e profundo conhecedor da ciência médica percebeu que o errático estratagema para impedir que o temível ser invisível promovesse um extermínio deveria ser corrigido , pois que não levava em consideração os números da economia . Igualmente dotado de elevado saber na ciência econômica , o rei da república dos bois incitou seus asseclas e as massas do chamado zé-povinho a não respeitar as ordens dos líderes tribais , que recomendam ao povo que permaneça em seus lares , para evitar a disseminação da peste . Mas nem precisava que o cacique-mor discursasse contra "o regime da caverna", para que o impudico povo desta desolada pátria não se submetesse ao jugo de tão duro regime , que o impossibilita de comer churrasco, beber cerveja e debater sobre futebol apinhado como pacato e obediente rebanho de bois acéfalos.  Incapazes da mais simples reflexão sobre a própria condição , os párias vivem resignados alimentando seus pálidos espíritos com músicas de refrões fáceis e competições de futebol , tacitamente conformados com a sentença do ostracismo social. O povo da república da soja tem uma natureza singular , suportou os troncos e açoites da escravatura , o sistemático extermínio dos indígenas , reis e parlamentos cujo único escopo é manter a casta dos párias abaixo do chão ! Sempre dispostos a servir seus senhores , os farrapos da nossa pátria ainda hoje mourejam como os antigos escravos , pois foram selecionados para a labuta grosseira e braçal, da qual se exige somente força muscular, já os nossos doutores e homens distintos são oriundos de famílias abastadas , e foram destinados aos trabalhos mais elevados do intelecto. Embora  a sociedade de castas tupiniquim tenha os seus "Bel-Ami", falta-lhe muito para extirpar o trabalho escravo. E não culpemos as caravelas pela escravidão em tempos de smartphone e wi-fi , pois só pode haver escravidão, quando há seres humanos dispostos a serem escravos ! Mas quando veio a peste e seus chefes tribais decretaram "o regime das cavernas" e o uso de máscaras os cordatos cidadãos deram uma rara mostra de rebeldia . Provavelmente o nosso " homem cordial" não concorda em fazer nenhum tipo de esforço que tenha como objetivo o bem coletivo . Somos servos , escravos , egoístas e quem sabe muito mais...

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