à espera do fantasma

Há algum tempo depois de me entregar a demoradas reflexões resolvi retornar ao meu país de origem , a inquestionável potência da América de peito nu, pois conseguira juntar um apanhado de textos literários , que já poderiam formar um livro. Pensava principalmente na capa e no título expostos nas vitrines das grandes livrarias e no reconhecimento de um trabalho sobre o qual me debrucei durante vários anos de minha vida e num surto de bravura tive a ousadia de enviar meus textos a fim de que as editoras analisassem e caso os considerassem digno de publicação poderiam me apresentar alguma proposta.
E num  lance de sorte extrema uma editora lançou-me uma proposta amigável de edição , obrigando-me apenas a comprar um certo número de exemplares que me custariam uma certa quantidade de dinheiro , não se tratava de um valor alto para qualquer pessoa que fosse remunerada com um salário que pelo menos lhe atendesse a todas as necessidades listadas no sexto artigo de nossa poética carta magna de 1988.Mas esta nossa republiqueta desavergonhada nunca se cansa de açoitar incessantemente seu  povo e tive que buscar meios lícitos para adquirir a quantia de dinheiro exigida pela editora , pois os meus parcos rendimentos não me possibilitam sequer a compra de panos para cobrir as partes pudendas. Foi assim que decidi por sebo as canelas e procurar os homens que tão brilhantemente dirigem esta nossa democracia de grãos e bois. Dirigi-me então a casa do parlamento da província dos caranguejos e me indicaram  um paletó que tinha fama de ajudar os pobres , pois também ele o fora pobre no passado. Sua indumentária denunciava-lhe com grande eloquência suas  origens , uma espécie de lenço posto na cabeça e uma grosseira corrente de aço retocavam a folga cômica de um paletó feito às pressas que podia a depender da imaginação de quem o olhasse toma-lo na conta de palhaço de circo. Àquela era a  primeira vez que entrava na casa das leis, lugar conhecido pelas tramas que fazem para destruir e saquear a nação. Tão logo adentrei no gabinete um de seus servos tomou conhecimento do meu caso e me tratou com cortesia afirmando que o nobre deputado estava à caminho. Sentei-me e pus-me então a esperar aquela ilustre figura tão empenhada em realizar o bem do estado brasileiro. Imaginava mesmo que, assim como todos estes nossos legisladores , o deputado estava resolvendo assuntos de interesse público e isso justificava de forma digna seu atraso , já que se passara duas horas de espera e o seu servo repetia sempre o mesmo aviso cortês:- Está à caminho , meu caro! Exausto e já  ligeiramente indignado com tanto tempo de espera , levantei-me e remarquei um novo encontro com o fazedor de lei, pois assim como o deputado, eu também tinha elevados compromissos a cumprir com a nação. Na segunda vez que adentrei a casa das leis , já não estava nervoso, nem me sentia um intruso , percebi que aquele lugar era do povo , mas por alguma razão o próprio povo não sabe disso e nunca compreenderam que as maracutaias que ali são arquitetadas destoam do correto propósito do probo ofício de legislar . Abri a porta do gabinete e sentei-me aguardando que um de seus servos me atendessem e eis que apareceu uma mulher de uma das portas da entrada e sentenciou que o deputado já não estava mais no gabinete e que novamente não seria possível encontra-lo no seu local de trabalho naquele dia. Percebendo a minha irritação somada a uma indignação temperamental que parece ser comum a escritores , remarcou uma terceira reunião com aquele ser que me parecia um fantasma, pois comecei a achar que aquele paletó era um ser intangível , quase uma divindade e para encontrar tão importante homem deveria entregar-me a jejuns e práticas ascéticas como aguardar horas a fio sem comer absolutamente nada, tendo apenas a frente da cadeira acesso à água a fim de que eu não de padecesse de desidratação. Após a segunda tentativa uma ideia fixa arrebatou-me, estava à procura de um fantasma , visto que na casa onde se fazem leis para exterminar a nação, jamais um pobre diabo do povaréu encontraria um verdadeiro legislador, pronto a atender e ajudar o povo. Tomei consciência que procurava um fantasma, pois legisladores preocupados com o povo não podem ser encontrados numa casa de comércio.  

Comentários

Postagens mais visitadas